"Bianca, não tenho coragem de falar pra ninguém, mas não gostei de estar grávida. Na verdade, eu odiei estar grávida!". Podem ter certeza, essa é uma frase ouvida por mim e por boa parte das/dos profissionais de obstetrícia e psicologia, muito mais do que vocês imaginam mas geralmente de maneira secreta, entre os dentes. Desconfortos físicos, mudanças hormonais, desarranjos emocionais, reajustes psíquicos: a desestabilização que uma gravidez traz é imensa em sua maioria, e não gostar de passar por esse turbilhão deveria ser aceitável e acolhido, inclusive. Mas ainda não é. Grávidas precisam todo o tempo dizer e mostrar como estão felizes e que se não fosse por esse processo, jamais descobririam o que é amor de verdade. Isso é de uma opressão tão violenta que poderia ficar horas questionando esse absurdo.
Você não é obrigada a gostar de nada. Para muitas, o desconforto é severo. O preço que se paga por gestar pode ser muito maior do que o esperado.
Isso não faz de você uma mãe menos zelosa ou amorosa. Isso faz de você um ser humano com percepções diferentes. Cada corpo traz consigo um contexto fisiológico e emocional e, com ele, a compreensão sobre gostar ou não de vivenciar uma gestação. Sua construção materna não depende de gostar de gestar ou não suportar gestar. Ela não depende sequer de gestar.
Inclusive, diversas mulheres que não gostam do processo acabam passando por ele novamente, seja de maneira compulsória ou não.
Não gostar de estar grávida é diferente de não querer estar grávida. E para ambas as situações, precisam
os de acolhimento, refúgio emocional e a compreensão de que não somos todas iguais.
A imposição sobre nossos corpos e as percepções patriarcais que deveríamos ter sobre eles vão nos levar a apenas um lugar: a eterna sensação de insuficiência materna. Não caia na cilada do pseudo poder que outras pessoas têm sobre você.
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