Há anos penso que oferecer suporte e assistência às pessoas em trabalho de parto é muito mais do que ajudá-las a encontrar uma posição favorável para parir. É, antes de tudo, ajudá-las a se verem como pessoas fortes e ativas às suas possibilidades no processo da gestação, no parto e também no pós-parto.
É estimular essas pessoas a desafiarem a visão obstétrica ocidental vigente, pautada pela submissão, passividade e em muitos casos, violência moral, psicológica e por vezes física. Para muitos profissionais desatualizados, o parto é um evento exclusivamente médico e que precisa ser conduzido obrigatoriamente em um ambiente de cuidado intensivo, independente de ser uma gestação de risco habitual ou de alto risco, colocando todas em um mesmo grau. A impaciência diante do processo fisiológico, a falta de habilidade na assistência ao parto normal, a cesárea como fim e não como meio, fazem com que cada gestante que é assistida por um médico assim, entenda o parto como um processo patológico e não natural.
Muitos obstetras, inclusive, nunca tiveram a oportunidade de ver um parto absolutamente natural. Estão tão acostumados a interferir no processo que não compreendem, sequer acreditam, que nossos corpos podem, grande parte das vezes, trabalhar sem intervenções. Ao invés de entenderem seus papéis secundários de estarem ali para oferecerem suporte adequado SE necessário, se colocam como prioridade no processo, onde os corpos que gestam se tornam simplesmente corpos sobre uma mesa, com um útero, uma vagina e um bebê dentro. Isso é degradante.
É portanto fundamental que quem gesta, enfrente e questione esse tipo de comportamento. Já tivemos uma grande evolução de alguns anos para cá. A entrada cada vez maior de profissionais que usam o absoluto respeito, a autonomia da mulher e a ciência como referência para sua assistência, trazem consigo parte da mudança necessária. A outra parte cabe também a quem gesta, a quem acompanha e às pessoas que estão trabalhando politicamente nas tomadas de decisão para protocolos adequados e respeitosos.
Somos muito mais que um corpo carregando outro corpo.
✍️ Bianca Puglia (@livrematernagem)
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